A versão do outro


Em ocasião da disciplina Textos Fundadores da Literatura Portuguesa, ministrada pela Profa. Priscila Campello, foi estudado o curioso conto “A versão de Marta”, de João de Melo. Fisgada pelas possibilidades que “A versão de Marta” apresenta, a aluna Maria Márcia Menechinni decidiu dar voz ao parceiro da protagonista do conto de João de Melo, dando àquele a oportunidade de narrar os seus percalços. “A versão do outro” é, portanto, uma resposta ao texto "A Versão de Marta". Esse pode ser encontrado no livro Doze Escritores Portugueses Contemporâneos, organizado por Álvaro Guerra et al. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997. p.53-65. Muito legal, Menechinni!



O escritor português João de Melo



A versão do outro


Maria Márcia Menechinni Ribeiro


Querida,


lamento o sacrifício e transtorno que tenho lhe causado durante esses anos todos, lembro-me bem dos bons momentos que tivemos juntos. Você sempre apreciava os meus rabiscos, dizendo que eles seriam a alma dos meus negócios. Assim que nos casamos, preocupava-se em cuidar para que eu não me desviasse do meu papel de escritor nem por um minuto. Sempre tratava de manter o silêncio da casa para que eu me debruçasse sobre as folhas brancas de papéis, quando ainda me faltavam inspirações. Seus cuidados, que às vezes me sufocavam, também levavam a acreditar que as palavras que saíam de sua boca profetizavam o nosso futuro. Éramos muito carinhosos um com o outro, principalmente à chegada do primeiro filho. Por mais que você estivesse tomada pelos afazeres de casa e da maternidade recente, não me deixava descuidar nem por um minuto de minha “literaturazinha”, sempre a me lembrar que nunca podia perder tempo. À chegada do nosso segundo filho, eu desejava estar mais presente, mas a vida de escritor não me permitia. Você deveria entender que para ter um bom desempenho intelectual me eram exigidos sacrifícios na vida social. A compensação com o ritual do ato de escrever me possibilitou o crescimento, o reconhecimento do meu trabalho e a fama. Neste momento deu-se o começo dos seus descontentamentos; mesmo sabendo que isso poderia comprometer a relação familiar, as manifestações de desafeto eram constantes... Sentia-me compromissado com os deveres do ofício, por muitas vezes perdendo a noção da realidade, sendo que os incômodos que isso me causava eram devolvidos com meus berros às crianças. Já não havia mais o seu apoio como antes, pelo menos eu não mais o percebia. O meu sucesso como escritor lhe trouxe transtornos, as cartas recebidas, o assédio dos leitores, o insucesso de sua profissão e as minhas viagens, com as quais você nunca concordou. Tudo isso lhe soava como fatos inoportunos. Sempre procurei entender sua ira ou motivos que te levaram a me classificar como um homem sem amor e compaixão. Não... Não entendia a frieza com que me olhava, a relação entre eu, você e as crianças distorcia tudo aquilo que pertencia a uma concepção de família. Pensei que fosse um simples ciúme ou um pouco de orgulho próprio por não conseguir acompanhar a minha posição de homem público. Recordo-me da primeira viagem que fiz: por mais que torcesse pelo meu sucesso, você se recusou a me acompanhar, deixando-me partir sozinho porque as crianças eram pequenas demais para viajar. Sabia da sua dificuldade em lidar com os meninos e que esses sentiriam muito minha falta. Mas como escritor, agora tenho compromissos não só com a família, mas com a ascensão social e também com meus leitores. Tudo isso foi se complicando. Viagens, leitores, fama, família e sucesso... Sei que tudo isso teve um preço, me empenhei demais em nosso sonho... Como retribuição, recebi simplesmente sua incompreensão.





E você? Já nos encaminhou o seu texto? Ainda não? Está esperando o quê. Envie para a gente (priscilaccampello@yahoo.com.br) ! Ele será devidamente revisado e, se publicado, será válido como Atividade Complementar de Graduação (ACG), sem falar que todo mundo vai saber do seu talento. Participe!



Ateliê: A Arte de Contar Histórias





O Convivendo com Arte teve início em janeiro de 1994, em Belo Horizonte - MG, com o objetivo de formar contadores de histórias e oferecer ao público a oportunidade de ouvir contos de tradição oral.

Desde então, por todo o país contadores de histórias vem sendo capacitados, através de ateliês voltados para os interesses de diferentes públicos: além dos pais e avós, também os profissionais da educação; saúde; recursos humanos das empresas, e pessoas interessadas no próprio desenvolvimento na arte da palavra oral.

O projeto já realizou mais de 90 noites de contos no Palácio das Artes, no Teatro da Maçonaria, no Teatro da Cidade e no Teatro Alterosa em Belo Horizonte – MG, além de apresentações e realização de oficinas nos Festivais de Inverno da UFMG, instituições, seminários, eventos culturais e encontros de diversas naturezas.

Vem desenvolvendo ainda uma pesquisa importante sobre o tema, que já gerou uma série de publicações incluindo artigos e contos de tradição oral de diversas culturas.

O Convivendo com Arte, juntamente com o Morandubetá do Rio de Janeiro, foi tema da Dissertação de Mestrado da Professora Hercilia Maria Fayão Beneti, pela FAE-MG em julho de 2000, com o título “Grupo de Contadores de Histórias: Possibilidades Educativas de Incentivo à Leitura”.

Os contos de tradição oral são, para o homem moderno, uma fonte de sabedoria e sentido para a vida.

Visite o site: http://www.convivendo.com.br/index.htm .



Angeles Leonor Navarro Betanzo

O nosso amigo Jairo César, durante os seus estudos na América do Norte, além de conhecer bastante da cultura daquelas bandas, andou também fazendo amigos, o que é essencial para a sobrevivência onde quer que estejamos. No caso do Jairo, porém, há uma peculiaridade: o rapaz andou encontrando amigos poetas, e resolveu nos brindar com dois belíssimos poemas de uma amiga mexicana, Angeles Leonor Navarro Betanzo. Ah, Angeles... o amor a nos perturbar a vida, a nos inspirar os versos em qualquer lugar do mundo...


I

Sueño celestial que mi razón domina
toma el corazón que por mi pecho brota,
déjame sin alma y con las venas rotas
y sigue con tu andanza peregrina.

Siembra en mí una amarga agonía
y corta el vuelo de mis dulces alas,
que la muerte para mí no es mala
si me has de matar con alegría.

Lágrimas de hiel mis ojos derraman
más ninguna compasión de ti espero
y aunque loca de amor a mí me llaman

aun me quema la llama del deseo
y en mi cabeza hay voces que reclaman
que jamás tuve un amor sincero.


VII

Recorro a pie tu cuerpo con el
Murmullo de un beso de inagotable
Aceite, búsqueda eterna, implacable
En tus prados perfumados de oyamel.

Tu cuerpo, cántaro de agua viva
Al que mi tacto rodea sigiloso;
Tropieza con súbita hendidura
Entre tus piernas (oculta desde hace siglos)
Con olor a barro recién cortado…



Humor


A presente postagem inaugura a seção “Humor” do nosso blog e tem como objetivo apresentar breve análise de textos de diferentes gêneros (priorizando-se as charges) que tratem, direta ou indiretamente, da concepção vigente de professor. Que profissão é essa? Qual a real função do professor? Como o vêem e como ele se vê? Devido à variedade de questões acerca de tão complexa profissão, consideramos válida a análise de diferentes textos. Aqui você encontrará também charges que, embora indiferentes à questão da atuação do professor, nos permitirá ver as armadilhas que a nossa língua nos prepara. Esperamos que esta seção promova a reflexão, além de proporcionar boas risadas!



UNESCO - Biblioteca Digital Mundial




Biblioteca Digital Mundial inaugurada

Publicado em 22.04.2009


A ferramenta, desenvolvida em uma parceria da Unesco com bibliotecas nacionais de vários países, oferecerá gratuitamente para internautas de todo o mundo documentos em 40 línguas diferentes


PARIS – A Biblioteca Digital Mundial (BDM) – um portal gratuito no endereço www.wdl.org, que oferece uma seleção de documentos procedentes das grandes bibliotecas internacionais – foi inaugurada oficialmente ontem na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em Paris. O ato contou com a presença do diretor-geral da entidade, Koichiro Matsuura, e de James H. Billington, diretor da Biblioteca do Congresso americano, uma das principais responsáveis pelo projeto. A BDM oferece opções de pesquisa e navegação na internet em sete idiomas – inglês, árabe, chinês, espanhol, francês, português e russo – e apresenta conteúdos em mais de 40 línguas.


O projeto foi idealizado em 2005 pela Biblioteca do Congreso dos Estados Unidos, que propôs a organização de uma BDM para oferecer gratuitamente ao público uma ampla gama de livros, mapas, filmes e gravações oriundas de bibliotecas nacionais de todo o mundo.


A biblioteca foi desenvolvida por uma equipe da própria Biblioteca do Congresso Americano, com suporte técnico da Biblioteca de Alexandria, no Egito.


Contou também com a participação da Unesco e de outras 32 instituições associadas, sediadas em países como Arábia Saudita , Brasil, Egito, China, Estados Unidos, Rússia, França, Eslováquia, Iraque, Israel, Japão, Grã-Bretanha, México, Marrocos, Uganda, Catar e África do Sul, entre outros.


Entre os inúmeros tesouros culturais da nova biblioteca digital estão reproduções das mais antigas grafias e fotografias raras da América Latina.


A Unesco sempre considerou as bibliotecas a continuação da escola. “A escola prepara as pessoas para ir às bibliotecas e hoje as bibliotecas se tornaram digitais”, resumiu Abdelaziz Abid, coordenador do projeto.


“Os países emergentes querem ver como isso funciona para criar em seguida bibliotecas digitais nacionais”, destacou Abid, acrescentando que a Unesco proporá ajuda a seus países membros que não tiverem meios técnicos ou financeiros para digitalizar os acervos de suas bibliotecas.


O criação da BDM será acompanhada por uma campanha de mobilização que tentará reunir até o fim de 2009 cerca de 60 países associados.





Disponível em: http://www.sinarqdf.org.br/noticias/not_0155_noticias.htm .




O belíssimo texto da aluna Mércia inaugura este espaço de divulgação dos textos dos alunos do Curso de Letras. A Mércia nos brinda com um poema que, com beleza e de forma singela, descreve o turbilhão de emoções e sensações advindas do ato sexual amoroso. Mércia, parabéns pelo texto. Grande abraço!


Rodin, Auguste - O beijo (1887)


...


Calo-me na tua voz

Bebo o teu silêncio

Beijo-te a alma

Com calma

Sem drama

Na cama

Na lama

Amo-te.

Sem fama

Com força

Com gana

Sou eu, pausa

Silêncio...

Só um sopro

Minha voz

Tua voz

Minh'alma

Pousada em teu corpo

Descanso

De novo calo-me

No teu silêncio

Na tua boca

No meu corpo

No teu corpo

Repouso.




Agosto/2004.


Mércia Aparecida Silva,

Formanda do Curso de Letras da PUC Minas / SG



Para sempre Poe - 200 anos de nascimento de Edgar Allan Poe



Apresentação


O Congresso Internacional Para Sempre Poe está sendo organizado pelo Pós-Lit (Programa de Pós Graduação em Estudos Literários) da Faculdade de Letras da UFMG e pela Purdue University, dos EUA, para homenagear o escritor Edgar A. Poe no seu 200º aniversário. O evento será realizado na própria faculdade, sendo dividido em três módulos diários. Pela manhã serão realizadas conferências e apresentações de trabalhos; à tarde haverá apresentações de trabalhos e mesas redondas; na parte da noite, os participantes terão acesso a filmes baseados na obra de Poe, seguidos de discussão.


O Para Sempre Poe abordará a obra completa do escritor sob a perspectiva de congressistas da América Latina e dos Estados Unidos. O nome escolhido para o congresso faz referência a uma de suas obras mais célebres,“O Corvo”. Neste poema, a expressão “Nevermore” (em português, “nunca mais”) é repetida pelo pássaro ao final da maioria das estrofes e confere novo sentido a elas. Assim, o título do congresso homenageia o autor através do antônimo das palavras do corvo: “para sempre” aponta para a imortalidade da produção literária de Poe.


Data: 20 a 23 de setembro de 2009



by Gerald Kalley, in: Illustration

Presentation


The International Conference Forever Poe is being promoted by the Graduate Program in Literary Studies of the Faculty of Letters UFMG, Brazil, and Purdue University, USA, to celebrate Edgar Allan Poe in the year of the bicentennial of his birth. The conference will take place at the building of the Faculty of Letters UFMG, located in Belo Horizonte, Brazil. The daily program will consist of a series of activities: lectures and paper presentations (in the morning); paper presentations and panels (in the afternoon); films based on Poe’s writings, followed by discussions (in the evening).


Forever Poe aims to promote a discussion Poe’s entire oeuvre and encourages contributions from all the Americas. The title of the conference is a reference to one of Poe’s best known poems, “The Raven”, where the expression “Nevermore” is repeated by the bird at the end of most stanzas, thus conferring a new significance on them. The title of the conference then celebrates Poe by reversing the meaning of the raven’s words, as Forever Poe points toward the immortality of his literary production.


Date: 20-23 September 2009





Disponível em: http://www.ufmg.br/poe/en/ . O site trás ainda sugestões de outros sites dedicados a Poe e sua obra, sendo que no mesmo pode ser conferida a programação do evento, realizando-se a inscrição.


Sobre o Terceiro EMAD



O Departamento de Letras e o Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa realizará, nos dias 24 e 25 de setembro de 2009, no Departamento de Letras da UFV, o III EMAD – Encontro Mineiro de Análise do Discurso. O evento tem como objetivo proporcionar a integração entre os pesquisadores da área de Análise do Discurso das instituições mineiras de ensino superior, assim como a divulgação, discussão e reflexão crítica das pesquisas produzidas nessa área. Trata-se da terceira edição do evento que ocorreu, pela primeira vez, em 2005, na Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte e, em 2007, teve sua segunda edição no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP.




Disponível em: http://www.iiiemad.ufv.br/index.html .



Espanhol ou Castelhano? (¿Español o Castellano?)



Muitas pessoas pensam que Espanhol e Castelhano são línguas totalmente diferentes, mas isto não é verdade. De acordo com o dicionário normativo da Real Academia Espanhola, trata-se de termos sinônimos.


As denominações espanhol e castelhano surgiram em épocas diferentes. O termo castelhano é mais antigo. Ele remonta ao reino de Castela, na Idade Média, quando a Espanha ainda não existia. Quando o país começou a se consolidar, no século XIII, o reino de Castela se impôs aos outros territórios da região que hoje formam a Espanha. Por causa dessa liderança, o castelhano, um dialeto com forte influência do latim, acabou sendo adotado como língua oficial do novo país em 1492, com a unificação dos reinos que correspondem à Espanha atual. O termo espanhol procede do latim medieval Hispaniolus, denominação latina da Península Ibérica Hispania.


A denominação do idioma como espanhol, em detrimento da forma castelhano, costuma gerar uma situação conflituosa. Sabe-se que na Espanha existem outros idiomas, tais como: galego, basco e catalão. Assim, se você disser que fala espanhol, pode-se subentender que você também fala esses outros idiomas. De acordo com a Constituição espanhola de 1978, o castelhano é considerado língua oficial em toda a Espanha, mas nas regiões onde há um idioma próprio, este possui valor co-oficial. Assim, torna-se possível compreender porque em lugares como na Catalunha ou no País Basco, por exemplo, o idioma co-oficial é falado no dia-a-dia.


A razão pela qual alguns países optam por chamar o idioma de castelhano e outros de espanhol pode ser política: você dificilmente vai ouvir um argentino dizendo que fala espanhol, já que o nome remete ao período colonial. Por esse motivo, o termo castelhano é mais usado na América do Sul. Já a forma espanhol é comum no Caribe, no México e nas áreas de fronteira com outra grande língua, o inglês. Na Espanha, o uso dos termos depende da região: no norte, as pessoas referem-se à língua como castelhano. Na Andaluzia e nas ilhas Canárias, o idioma é chamado de espanhol.


Assim como os brasileiros não falam o português idêntico ao de Portugal, sabe-se que existem variações no modo de falar dos diferentes povos latino-americanos colonizados pela Espanha, mas nada que possa fazer-nos considerar qualquer dessas variantes como um idioma a parte.


Apesar de o espanhol ser um idioma falado em regiões relativamente distantes, a ortografia e as normas gramaticais asseguram a integridade da língua. As diversas Academias de Língua Espanhola são responsáveis por preservar esta unidade. A Espanha elaborou o primeiro método unitário de ensino do idioma, que é difundido por todo o mundo, através do Instituto Cervantes.




Disponível em: http://www.soespanhol.com.br/conteudo/Curiosidades_espanhol_castelhano.php .


MEC quer professor no lugar certo


Por: Todos pela Educação

28 de maio de 2009


Brasília - Estudo exploratório sobre o docente brasileiro que será apresentado hoje pelo Ministério da Educação, em Brasília, mostra que a maioria dos professores da rede básica de ensino leciona disciplina de área diferente da sua formação. O Estado de Minas teve acesso à pesquisa, elaborada com base no censo Escolar e que traça um perfil dos mais de 1,8 milhão de profissionais da Educação básica do país. Entre os principais dados do levantamento estão as disciplinas com maior déficit de professores habilitados, o nível de formação da categoria em cada estado e a quantidade média de turnos trabalhados pelos docentes de ensino infantil, fundamental e médio. Em Minas, são 210 mil professores da Educação básica. Nesse universo, o levantamento constata que 34% dos profissionais formados em determinada área atuam em outra, como um professor de história que dá aulas de português.


Os casos mais críticos são de física e química no ensino médio, com 55% e 43%, respectivamente, dos docentes sem habilitação necessária nas salas de aula. No Brasil, chama a atenção o déficit de professores de física (54,6% sem formação específica), artes (44,7%), matemática (40,4%) e química (38,9%).


Outro dado apontado pela pesquisa é o grande número de professores leigos – aqueles que concluíram o ensino fundamental ou médio, mas não têm formação necessária para exercer o magistério. Em todo o Brasil são 119 mil, o equivalente a 6,3% da categoria. Apesar de identificar a idade de 30 anos como a faixa etária média do professor brasileiro, o estudo indica maior amadurecimento dos profissionais em Minas, pois mais de 40% dos professores do estado têm mais de 41 anos. Há também forte predominância de mulheres em salas de aula. No país, elas são 81,9% dos docentes; em Minas, 84,8%.


A pesquisa ainda quebra um mito com relação à sobrecarga de trabalho do professor. De acordo com o MEC, 63,8% dos profissionais no país dão aula em um só turno (manhã, tarde ou noite). Em Minas, esse percentual é maior: chega a 72,9%. No que diz respeito ao número de turmas atendidas por professor, observa-se um ritmo mais pesado de trabalho entre os docentes do ensino médio, em que 32,4% dos profissionais atuam em cinco a oito turmas e 17,4% deles trabalham em mais de nove salas de aula.


FORMAÇÃO


O governo federal anuncia também hoje um pacote de novidades para os professores de todo o país. Durante o evento de lançamento do Plano Nacional de Formação dos professores da Educação Básica, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai assinar dois decretos, um com novas regras de participação no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) para jovens interessados na carreira do magistério e outro com mais exigências para o funcionamento dos cursos de pedagogia.


O presidente lança também uma matriz para a nova prova nacional de contratação de professores, que será aplicada, em sua primeira edição, no primeiro semestre de 2010. Conforme o EM adiantou em abril, a prova única deve substituir os concursos públicos.


Além disso, o MEC vai apresentar ao Congresso um projeto de lei que torna obrigatória a formação de nível superior para todos os professores da Educação básica. O texto prevê um ajuste da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que hoje aceita formação mínima de nível médio para os professores que atuam no ensino fundamental e na Educação infantil. O ministro da Educação, Fernando Haddad, vai anunciar uma verba extra para os estados pagarem o valor integral do piso salarial dos professores de R$ 950.


* A repórter viajou a convite do MEC




Fonte: Jornal O Estado de Minas (MG)

Disponível também em: http://www.grubas.com.br/noticias.asp?codigo=2742 .



Educar é contar histórias


“Bons professores eletrizam seus alunos com narrativas interessantes ou curiosas, carregando nas costas as lições que querem ensinar”



De que servem todos os conhecimentos do mundo, se não somos capazes de transmiti-los aos nossos alunos? A ciência e a arte de ensinar são ingredientes críticos no ensino, constituindo-se em processos chamados de pedagogia ou didática. Mas esses nomes ficaram poluídos por ideologias e ruídos semânticos. Perguntemos quem foram os grandes educadores da história. A maioria dos nomes decantados pelos nossos gurus faz apenas “pedagogia de astronauta”. Do espaço sideral, apontam seus telescópios para a sala de aula. Pouco enxergam, pouco ensinam que sirva aqui na terra.

Tenho meus candidatos. Chamam-se Jesus Cristo e Walt Disney. Eles pareciam saber que educar é contar histórias. Esse é o verdadeiro ensino contextualizado, que galvaniza o imaginário dos discípulos fazendo-os viver o enredo e prestar atenção às palavras da narrativa. Dentro da história, suavemente, enleiam-se as mensagens. Jesus e seus discípulos mudaram as crenças de meio mundo. Narraram parábolas que culminavam com uma mensagem moral ou de fé. Walt Disney foi o maior contador de histórias do século XX. Inovou em todos os azimutes. Inventou o desenho animado, deu vida às histórias em quadrinhos, fez filmes de aventura e criou os parques temáticos, com seus autômatos e simulações digitais. Em tudo enfiava uma mensagem. Não precisamos concordar com elas (e, aliás, tendemos a não concordar). Mas precisamos aprender as suas técnicas de narrativa.

Há alguns anos, professores americanos de inglês se reuniram para carpir as suas mágoas: apesar dos esplêndidos livros disponíveis, os alunos se recusavam a ler. Poucas semanas depois, foi lançado um dos volumes de Harry Potter, vendendo 9 milhões de exemplares, 24 horas após o lançamento! Se os alunos leem J.K. Rowling e não gostam de outros, é porque estes são chatos. Em um gesto de realismo, muitos professores passaram a usar Harry Potter para ensinar até física. De fato, educar é contar histórias. Bons professores estão sempre eletrizando seus alunos com narrativas interessantes ou curiosas, carregando nas costas as lições que querem ensinar. É preciso ignorar as teorias intergalácticas dos “pedagogos astronautas” e aprender com Jesus, Esopo, Disney, Monteiro Lobato e J.K. Rowling. Eles é que sabem.

Poucos estudantes absorvem as abstrações, quando apresentadas a sangue-frio: “Seja X a largura de um retângulo…”. De fato, não se aprende matemática sem contextualização em exemplos concretos. Mas o professor pode entrar na sala de aula e propor a seus alunos: “Vamos construir um novo quadro-negro. De quantos metros quadrados de compensado precisaremos? E de quantos metros lineares de moldura?”. Aí está a narrativa para ensinar áreas e perímetros. Abundante pesquisa mostra que a maioria dos alunos só aprende quando o assunto é contextualizado. Quando falamos em analogias e metáforas, estamos explorando o mesmo filão. Histórias e casos reais ou imaginários podem ser usados na aula. Para quem vê uma equação pela primeira vez, compará-la a uma gangorra pode ser a melhor porta de entrada. Encontrando pela primeira vez a eletricidade, podemos falar de um cano com água. A pressão da coluna de água é a voltagem. O diâmetro do cano ilustra a amperagem, pois em um cano “grosso” flui mais água. Aprendidos esses conceitos básicos, tais analogias podem ser abandonadas.

É preciso garimpar as boas narrativas que permitam empacotar habilmente a mensagem. Um dos maiores absurdos da doutrina pedagógica vigente é mandar o professor “construir sua própria aula”, em vez de selecionar as ideias que deram certo alhures. É irrealista e injusto querer que o professor seja um autor como Monteiro Lobato ou J.K. Rowling. É preciso oferecer a ele as melhores ferramentas – até que apareçam outras mais eficazes. Melhor ainda é fornecer isso tudo já articulado e sequenciado. Plágio? Lembremo-nos do que disse Picasso: “O bom artista copia, o grande artista rouba ideias”. Se um dos maiores pintores do século XX achava isso, por que os professores não podem copiar? Preparar aulas é buscar as boas narrativas, exemplos e exercícios interessantes, reinterpretando e ajustando (é aí que entra a criatividade). Se “colando” dos melhores materiais disponíveis ele conseguir fazer brilhar os olhinhos de seus alunos, já merecerá todos os aplausos.


Cláudio de Moura Castro é economista

cláudio&moura&castro@cmcastro.com.br


CASTRO, Cláudio M. “Educar é contar histórias”. In: Revista Veja, 10 de junho de 2009, p. 30.

Também disponível em: http://veja.abril.uol.com.br/100609/p_030.shtml .



 
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